Transcrição:
- Cleonice Deolindo
- O nome do seu pai?
- Amadeu Deolindo
- E da sua mãe?
- Maria dos Anjos Medeiros Deolindo
- Você tem irmãos?
- Sim. Nós eramos cinco. Faleceu um e somos quatro hoje
- Onde você nasceu?
- Aqui em Teófilo Otoni. Nascida e criada na margem da linha.
- Como é que era a sua infância? Você lembra da ferrovia?
- Eu lembro assim quando o Trem passava subindo, descendo e a gente ia na nossa casa e de lá de cima a gente ficava por cima, só olhando o trem passar. E mãe sempre gritava: "Meninos vocês olhem!"... Quando vinha, que apitava, que dava aquele "piuíííí", mãe já gritava: "Para!". Porque a gente gostava de ficar correndo na rua, que gostava de brincar na rua, atravessar a linha de um lado pro outro na casa do vizinho, né? Que tinha no lado de baixo... nós do lado de cima e eles do lado de baixo... Ai a gente passava, ficava brincando e quando ele (o trem) vinha, todo mundo corria pra dentro de casa porque o quintal contava que a máquina vinha e ela brigava com medo. O medo que ela tinha da gente ser atropelado quando descia... que ela ia descendo... ela descia mais rápido. Na subida ela ia mas lento, mas pra descer ela vinha embalada.
A nossa brincadeira na época era corda, bambolê, peteca... Eu gostava de, antigamente, de colocar as latas e equilibrava na ponta dos pés, segurando as latas... brincando. Queimada, bola então... a gente brincava muito disso aí.
- O que você participava mais desse universo da Bahia-Minas aqui em Teófilo Otoni?
- Nós participávamos. Quando era na época do carnaval, mãe enfeitava a nós todos e a gente saia nos blocos. Todos pequenos nos blcoos com aquelas sainhas... era muito engraçado... vestia e enfeitava a gente todps e a gente saia... naquela época mesmo... eu me lembro que eu, e minhas outras irmãs, saia brincando de frevo. E ficava ansiosa, ficava todo mundo esperando entrar logo de férias pra ir pra casa da avó lá em Helvécia.
- Qual a sua melhor memória de Helvecia?
- As brincadeiras e o rio que a gente saia da casa da minha vó pra gente poder ir pro rio tomar banho. Eles iam lavar roupa, vasinha, tudo na beira de rio. Aqui não tinha, mãe não deixava a gente ir. Ela lavava roupa no rio, mas não deixava a gente ir. Ai então a gente ia em Helvécia só na época das férias, pra gente brincar na beira de rio. Ensinava a lavar roupa, a gente fazia de tudo. Tinha um "balango", lembro como hoje, no pé de ingá na beira do rio. Então eles faziam esse "balango" e a gente sentava nesse "balango" pra pular lá dentro da água.
- O que você fez quando cresceu?
- Bem, eu fui pegando uma idade, logo como não gostava muito de estudar eu não estudei, queira mais era de trabalhar. Ai nessa época que a gente começou a trabalhar eu fui trabalhar, aprender a trabalhar na lapidação. Que naquela época o auge era a lapidação, então os vizinhos da gente, fora os que já tinham ido embora na época da Bahia-Minas que acabou e tudo... então ficou pedra.
Trabalhei em pedras, tinham lapidação. então meus vizinhos quase todos tinham lapidação, então a gente foi aprender a lapidar. Comecei a aprender encanetada, depois de encanetada polir. E assim foi minha infância junto dessa turma de vizinhos que a gente tinha. Estudar mesmo ninguém quiz, o negócio era mesmo estudar pra ganhar dinheir. Até uma certa idade, uns 16 anos, eu fui bem cedo pra lapidação. Estudava de manhã, chegava em casa, arrumava cozinha e ia pra lapidação... vender, encanetar e polir
- Como era essa sensação de trabalhar e ter seu dinheiro alí?
- A era muito bom que no domingo a gente ia na matinê. No Palácio, cinema. então tinha uma turminha lá dos palmeiras que cantava na matiné. As crianças cantavam no domingo toda manhã na matinê. E tinha... aquele negócio que a gente gostava de ficar olhando: o trenzinho movimentando pra lá e pra cá, a Pojichá, aquela que ficava na praça. Ela só ia pra frente e pra traz. Enquanto o pai de Lico era vivo, ele cuidava dela. E muito bem cuidado. Ai a gente ia pra praça brincar naquele escorregador. Matiné, escorregador e ver a Pojichá pra lá e pra cá.
- Como foi que você recebeu a notícia que a estrada de ferro ia fechar?
- Eu ainda era bem pequena. Eu tinha uma idade de seis à sete anos. Foi... começou em 62 e acabou em 66. E ainda assim a gente brincava muito. A gente ficava triste. Você quer ver um chororó era quando os amigos iam embora. Porque falavam: "ah, fulano vai embora de Teófilo Otoni". Que eles foram começando a serem mandados embora. Ai quando eles iam e nós viamos mãe, pai... a gente chorava também. Aquele turma que brincava junto. Ai foi muito triste. Separou todo mundo. Ainda ficou alguns que até hoje a gente ainda lembra. Ainda tem aquela amizade, aquela coisa "chegada". Mas foi muito triste.
- Eu vejo aquela tristeza, não tem aquela alegria que a gente tinha. Os Carnavais que a gente saia, quando tinha, existia o Caninha Verde que era um bloco tradicional aqui dentro de Teófilo Otoni. Tinha a matiné que nós íamos no 7 de Setembro. E depois veio o clube Palmeirinhas que era do cunhado de Perpétua. A noite e de dia tinham matiné. E a gente ia no Domingo na matiné dançar nesse clube até... É muita, muita história...
Os amigos que hoje a gente fala "morro do feijão bebido", a turma da linha... então a gente juntava, a gente juntava aquela turma pra brincar de queimada, bola, tinha gincana. Uma gincana melhor que a outra que existia aqui no bairro. Ai isso tudo foi acabando... cada gincana que tinha... olha, eram muito boa... E a gente frequentava era tudo! Tinha lá no morro, da música que Perpétua cantou "no morro do feijão bebido", ah! Aquelas macumba ali, como diz o povo: "as macumba", a gente rodava era aquilo tudo, não ficava uma que a gente não ia pra atentar. A gente ia era pra atentar mesmo. "- Eita cambada de menina atentado", dizia a finada, que Deus a tenha, xingava nós tudo. "Não sei o que esses meninos vem fazer aqui." Muito bom, e a gente aprontava mesmo!
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