Transcrição:
Um belo dia, uma amiga minha estava desfilando na escola Pedras Preciosas e estavam ensaiando, daí ela tinha 12 anos, dai ela falei: "vamos, sua mãe não deixa ir nós vamos escondido!" Peguei e saí lá do Jardim São Paulo a pé, fui lá pro Grão Pará ensaiar. Tomei uma bela surra e nesse dia aprendi a Sambar.
Bete Fagundes, nascida e criada Em Teófilo Otoni. Meu pai Caio Zé de Abreu, carioca da gema. Carioca e sambista mesmo. Minha mãe, Dona Rita Rita Guedes Abreu, também do candomblé, mas também gostava muito de carnaval. Já chegou a desfilar nas alas das baianas aqui também umas três vezes. E essa sou eu.
Muito feliz demais. Era arquibancada de um lado, arquibancada do outro. Começava lá na rodoviária e vinha, mas o tema não me lembro. E aquilo eles gritavam, meus parentes na arquibancada gritando. Ver aquele povo aplaudir, aplaudir, aplaudir de pé, entendeu? Só me lembro da fantasia ao quando estava vestida. Uma sainha azul, babadinho amarelo e quando um topzinho que quando cê sambava a sainha levantava. Lindas! E tinha uma coisa que eu sei que não vai voltar.
Era o nosso diretor o Cleiton Alan. Maravilha de pessoa. Eu comecei nela, fiquei esperando uns quatro anos, ai não quis mais. Quer dizer, não quis mais não,acabou. Acabou o divertimento.
Antigamente tínhamos a nossa escola de samba, praça, palanque, pessoal ai sambando, se divertindo. Aí quando acabou, acabou. Pra mim foi muito difícil. Como queria muito que meus filhos hoje vivenciassem se tivesse pelo menos uma memória do que foi aquilo. Se tivesse gravado, que pudessem mostrar, estar mostrando mostrando hoje, pra quem não viveu aquela época, vai vendo hoje que era. Mas acho que não têm.
Dá vontade de voltar o tempo. A vontade... vontade é de tar aqui... de estar... era muito muito bom, uma coisa que, sabe? Uma maravilha que é samba no pé, você sambar. Você ver todo mundo te aplaudindo, aquela galera de um lado e do outro... maravilhoso! Parece que a alma sai do corpo.
Gente que já sambou, já dançou comigo... isso não lembro não. As pessoas que a gente passava a noite sambando, iam embora, passava lá no Jardim São Paulo a pé, seria ótimo. A gente ainda passava ali nos caminhões de tomate e pegavam um tomatinho pra comer. Subia comendo. Se pudesse voltar no tempo nós só queríamos que eles revessem... mas antigamente não tinha câmera, celular... Mas eu acho que têm muitos fotógrafos que têm... Pra divulgarem! Fazer um mural! Pra colocar, pra gente tentar ver se acha um jeito pra gente passar pr'os nossos filhos aquilo ai. Que era uma época muito boa, que podíamos sair e voltar pra casa em segurança. Que hoje está muito difícil, né? Então é isso que eu queria. Que os nossos governantes procurassem que eu sei que tá guardado em algum lugar.
- Como você conta essa história hoje para os seus filhos.
Eles não acreditam quando eu falo, mas eles sabem que eu sambo bem. Mas quando eu falo que ele já sai de escola de samba e já fui convidada lá em São Paulo, eles não acreditam. Sério, não é tradicional. Eu tenho um filho que é pagodeiro, crente, mas pagodeiro. Não sai de um pagode.
Minha mãe na cozinha fazendo almoço e cantando: "Não deixe o samba morrer" E aquilo eu fava olhando, sabe? Ela cantando. Ela também era apaixonada por samba. A minha mãe. Gostava muito assim. Era a paixão dela. Eu já tive amiga que ia pra escola de samba, madrugada a dentro, e ai eu peguei a importância. Ai um belo dia, uma amiga minha tava desfilando na escola Pedras Peciosas, tava ensaiando. "vamos, sua mãe não deixa ir nós vamos escondido!" Peguei e saí lá do Jardim São Paulo a pé, fui lá pro Grão Pará ensaiar. Tomei uma bela surra e nesse dia aprendi a Sambar. Aprendi assim, passinho, passinho que ela me ensinava... essa colega minha... daí aprendi e até hoje sou apaixonada.
- E como está o samba no pé hoje?
- Ainda gosto! Mesmo jeito! Eu falo pra você que quando eu começava a sambar todo mundo levantava. Não tô me gabando, mas eu era a melhor pacista. E até hoje quando eu chego pra sambar, todo mundo para!
- Você ainda samba?
- Oh! Tá no sangue!
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